quarta-feira, 4 de maio de 2011

Mulheres

Ela estava se sentindo péssima! Terrivelmente irritada! Já fazia alguns dias que ele não dava um sinal de vida desde que haviam combinado de se encontrar naquele cinema. Para completar, ela estava se sentindo inchada, mau humorada, o sorvete que havia comprado caíra quando uma qualquer nela esbarrara e... e... e era isso.


Agora que não tinha como se refrescar, percebia como o sol ao alto queimava-a enquanto ela o esperava, sentada num dos bancos do shopping ao ar livre. Ele não estava muito atrasado, mas no estado que ela se encontrava, estava prestes a voar em seu pescoço: mordendo, arranhando e... beijando.


Ainda irritada, começou a mexer uma perna enquanto avaliava outras garotas que passavam. Uma era decididamente gorda pra curtíssima roupa que comprara; a outra havia esquecido a dignidade em casa conforme saíra com aquele cabelo reto, duro, ruim; já a terceira que passara tinha... ela era muito... ela estava com... era uma piriguete.


Bufando por não haver conseguido encontrar defeitos nessa última, virou-se para o outro lado e sentiu como se tivesse descido três degraus de uma só vez! Andando ao sol, descontraído, seu par vinha a seu encontro! Ele estava com aqueles belos óculos escuros, escondendo a beleza daquele olhar que falava muito sem nada dizer. Ela se levantou para lhe chamar a atenção, sorriu vacilante para ele, e deu um aceninho rápido.


Ao percebê-la, ele tirou os óculos e sorriu aquele sorriso franco, aberto, que só ele tinha e ela não pôde deixar de soltar um longo suspiro, desses que se solta quando se está apaixonado, deixando toda a raiva e irritação de há cinco minutos para trás. 


Ela o via caminhar com uma leveza, uma tranquilidade que não condiziam com o estado em que ela estava ainda há pouco! Viu, então, o sorriso que lhe endereçava e percebeu como era fácil para ele mostrar os dentes daquele jeito, pois era sempre assim que ele a recebia ou a seus amigos... e amigas. Conforme ele se aproximava, percebeu que aqueles olhos que nada diziam não estavam lhe falando nada àquele momento e esse obviedade era consternante! Então, começou a ver perceber que ele não poderia simplesmente estar tão feliz quanto aparentava, pois se atrasara para vê-la e o mínimo que esperava era que estivesse pelo menos ansioso para o encontro! 


A não ser que ele não estivesse ansioso.


Ou que estivesse saindo de outro encontro.


Assim, ele ia vencendo os últimos metros que o separavam dela, que não mais sorria mas exibia uma digníssima carranca e eis que ele, ao abrir os braços para neles aconchegá-la, leva um sonoro tapa na face ao que ela foge, aos prantos, deixando para trás a cara mais confusa que qualquer homem conseguiria fazer em semelhante situação!