quinta-feira, 29 de março de 2012

Estrada Sem Fim - Parte 1


-Amigo, por favor...
-Fala, dotô!
-Você saberia me dizer se essa aqui é a estrada da FELICIDADE?
-É, sim, sinhô.
-E falta muito pra chegar lá?
-Bão, isso depende né.
-Como assim? É um caminho, oras! Ou se está perto ou se está longe.
-Ara! Isso só serve pra mostrá como que ocê tá longe mesmo de lá viu! Falando da felicidade como se fosse um lugar onde o sujeito senta e arria suas bota! Ainda por cima segue falando isso tudo do alto desse seu tratô!
-Que trator? Ah, isso aqui? Mas é que eu achei abandonado um pouco mais pra trás e resolvi usar! Já me economizou uma boa pernada debaixo desse sol quente!
-Então cê vê se descansa bastante em cima desse bicho aí, porque montado nesse trem que ocê não chega na Felicidade!
-Ora, que desaforo!! E por que não? Temos todos o direito de sermos felizes! Aposto até que  chego mais rápido que o senhor!
-Num chega... Sabe por que, seu moço? A Felicidade é o próprio caminho, não o lugar. Se ocê vai montado nesse bichão, ocê não enxerga nada que a estrada pode te oferecê e ainda passa por cima do cabloco que vai a pé, descalço. Que nem que eu, que tive que me jogá de lado quando vi ocê vindo! Isso não se faz moço! Ninguém chega na felicidade desse jeito.
-Nossa, é mesmo! Só agora pude notar que você está descalço! Por sorte, tenho um par de sapatos extras aqui! Aqui, pegue!
-Epa! Viu só como já baixô o calorão? Eu tinha escolhido deixar os sapatos pra trás por minha conta mesmo! Aí aprendi a me livrar dos conforto desnecessário! Ocê acabô de sentir a própria generosidade tocando o sinhô e eu aprendi a própria gratidão! Isso deixou a nós dois mais pra perto de Lá!
-Tem razão, o clima está mais gostoso aqui! Já até consigo sentir o Vento...
-Pois então desça desse seu tratô e vem caminhá um poco ca minha pessoa!
-Tem razão! Vou descendo!
-Cuidado...
-Opaa! Ai, minha perna! Acho que me cortei nesse ferro aqui!
-Não se preocupe com isso! As besteiras que a gente faiz tem mais é que ficá marcada fundo na nossa pele, que é pra mor de a gente aprendê cas idiotice do passado! Ali, vai lá lavá esse corte naquele riacho!
-Mas não tinha riacho nenhum ali! Eu vi agorinha mesmo!
-Pois bem, então a gente caminhamos mais um pouco!
-A estrada da felicidade é sempre estranha assim, senhor?
-Às vezes piora! Por que a gente é ser humano, né, e só consegue aprender e dar valor a um sentimento quando já provô do sentimento oposto! Eu não sabia que meu sapato era bão e confortável até ter que andá um tempão co pé no chão! Mas ainda bem que o sinhô apareceu com esse par extra aqui! Por que agora eu já sei que é gostoso fica de sapato na estrada! Hehehe!
-É, eu ainda preciso aprender essa... Mas, que estranho! Achei que a Felicidade vinha pra somar na nossa vida!
-Uaaai! Que jeito?? Vamo imaginá... você quer ser feliz com medo?
-Não, claro que não! Isso é impossível!
-Pois bem, dotô: pra ganhá a Felicidade ocê tem que perdê o medo! Muitas vezes nessa estrada cê vai vê que perdendo se ganha muito... E agora chega de papo! Vamo botá essas canela pra mexê que senão a gente não chega nunca lá!
-Ei, me espera!
-Bora, muleeeque! Que a noite cai, cê dorme, sonha e se motiva co sabor da Felicidade que tá em todo sonho!

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