Era uma pergunta simples e despretensiosa, mas ela a respondeu com uma mentira.
Não é como se gostasse de mentir, claro. Ao contrário: detestava. Mas como abrir sua vida de qualquer forma depois de ter sido tão magoada? Lembrava-se como se fosse ontem de suas crenças despedaçadas e espalhadas como um dente-de-leão ao vento, de seu coração quente partido como um bloco de gelo jogado ao chão.
Olhou mais uma vez para o verde daqueles olhos que a indagavam. Pareciam tão sinceros e a pergunta não era nem mesmo complexa, ou sobre seus segredos. Mas a sinceridade que emanavam era a mesma daqueles olhos que haviam sido seus um dia e que, ainda há pouco, haviam-na esmagado sob o peso de uma inacreditável traição. O que mais lhe machucara é que não fora por outro amor que fora trocada...
Seus sentimentos, tão fortes e perenes, haviam sido postos de lado para que aventuras fossem vividas: uma mais fugaz que a outra. Como poderia, então, colocar a si mesma novamente nessa roda da sorte que é o jogo da confiança, se não pudera nem mesmo acreditar naquele a quem tanto e por tão longo tempo devotara sua atenção?
Estava exagerando, sabia-o. O que lhe fora perguntado não exporia seus sentimentos! Era apenas um medo, infundado, de se mostrar verdadeira, como sempre fora, frente a alguém que não poderia dizer ao certo se corresponderia à sua sinceridade habitual. Para não se ferir, mentira. E por não fazer parte do mundo das inverdades, imediatamente sentiu-se mal por tê-lo feito.
Qual impasse se lhe impusera! Contar a verdade e iniciar um vínculo de confiança, daqueles que dilaceram se forem quebrados, ou persistir na mentira e permanecer inabalável e sem dor, porém sozinha? Ela olhou de novo para aqueles olhos e não viu neles maldade qualquer. Apenas um brilho indistinto, mas que lhe inspirava segurança, apesar do pouco tempo de convivência.
Todo esse pensamento transcorrera no intervalo de um suspiro! Portanto, ainda havia tempo para desfazer o mal da mentira! Assim, hesitante, contou-lhe a verdade, com um sorriso mais para si mesma. Queria-o a seu lado, pois fazia-lhe bem! E não havia nada melhor para suplantar laços rompidos do que novos laços, mais fortes e duradouros! E conforme a verdade fluíra, ela imediatamente se sentiu melhor: estava em paz consigo mesma, pois havia se determinado conforme seus próprios valores!
Novos horizontes tinham acabado de se abrir.
----------------------
Não é que eu costume escrever para alguém, ainda que me inspire em meus amigos para contar histórias, mas essa situação mereceu um destaque especial!
Um bom domingo a todos!
Bom. Bastante rico a descrição desse momento. Abraços.
ResponderExcluir