segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Momentos

A garota que passava o rímel com delicadeza, abusava do blush, com esmero, regozijando-se em simples alegria com o efeito que causava frente ao espelho. Não ligava para o exagero no pó, ainda que dele não muito gostasse, mas a tendência fazia com que agisse desse jeito. Destoar, talvez, não fosse nada interessante. Imagem, sim, era tudo.

Dando uma última ajeitada no cabelo e levantando um pouco os shorts que usava, respirou fundo e saiu de casa com as amigas, para onde encontraria, novamente, aqueles momentos de êxtase, numa pista de dança ou onde quer que fosse!

Ao chegar, foi apresentada a uma dose de uma forte bebida âmbar. Risos. O trajeto do copo à boca foi pontuado por lembranças, mas não havia tempo para recordar lições de caráter dadas em outras tenras idades agora, pois agora era hora de deixar no fundo do copo vazio aquelas características que a definiam e a individualizavam, em prol daqueles instantes. Tal qual fora previsto, cada risada, cada sorriso trazia consigo um pedacinho de momento feliz. A fugacidade da alegria não era importante àquela hora, apenas importava a próxima dança, a próxima música, o próximo encontro de olhares...

A volta no carro foi tão ou mais feliz que a ida! Apesar de cansadas, e incentivadas pelas doses da âmbar bebida, as amigas riam como nunca ao se despedirem da garota que, com um aceno, viu o carro fazer a curva e, com ele, levar o que sobrara de seus preciosos instantes.

Entrou em sua sala, e sentou-se, sozinha. A alegria de há pouco se fora conforme via entrarem pelas frestas da janela, da porta e do teto aquelas que haviam sido afastadas pelo estado de sonho anterior: a Solidão, a Tristeza e a Angústia. Sentaram-se ao lado da garota, que as abraçou conforme viu que, simplesmente, não havia ninguém mais e, logo, escapatória! Que tudo o que uma vez tivera, escapara de suas mãos como que levada por uma forte lufada de realidade. Ao esvaírem-se os instantes, viu-se ali, postada, com a alma despedaçada nas frias mãos de seu próprio tormento. Percebia aos poucos como tudo em sua vida era vão e fugaz como o efeito de uma dose de álcool.

Desesperada, agarrou-se à única âncora que lhe sobrara: pegou seu celular e, desprezando as novas mensagens, buscou por aquelas de tempos de outrora, quando não soubera dar valor a quem lhe valorara. Aos prantos, relia-as diversas vezes, com voracidade, como se pudessem fugir dali como um de seus preciosos momentos, dos quais tanto precisava.

Chorava. E o choro que escapou-lhe da garganta teve causa na certeza de que aquele remetente, por mais que teimasse em pensar que não, em achar que estaria ali a lhe esperar, recomeçara uma nova vida, da qual não poderia fazer parte, pois esta que ele reconstruíra era baseada na plenitude da permanência enquanto ela, em sua vil mesquinhez, optara, lugubremente, pelo momento.

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