sábado, 9 de abril de 2011

Pequenas Belezas Diárias

Ele já havia se levantado há algum tempo. Tinha preparado um café forte e agora estava sentado numa cadeira, na varanda, olhando enquanto ela dormia seu sono sereno. O caderno já se encontrava aberto sobre seu colo, mas ele ainda não sentia vontade de lhe deitar as palavras, pois ainda havia muito a se observar antes de escrever.

Era um desses dias que já começavam quentes, de modo que a porta aberta não perturbaria seu sono com correntes de ar. Somente uma pequena faixa de luz do sol invadia no quarto e iluminava torneadas pernas, conferindo um brilho dourado na pele que tocava. Conforme ele se levantara, ela, que estava deitada em seu peito, permanecera de lado, na mesma posição, imperturbável pelo levante do rapaz.

Ainda indisposto à escrita, pôs-se a acompanhar preguiçosamente o movimento da luz do sol sobre aquele pequeno corpo. Ela vestia um shortinho de um confortável pijama velho e uma blusa cinza, de ginástica. Seu peito subia e descia com a respiração, lenta e despreocupadamente. Ele sorriu, satisfeito por ter consigo tão bela presença!

Sentindo-se inspirado, mal tocara o papel com a lapiseira, arranhando-o com as primeiras palavras deste texto, quando viu-a abrir os olhos e presenteá-lo com seu verde-indefinível. Cheia de sono, ela apenas lhe resmungou alguma coisa qualquer, cobriu-se até a cabeça com o lençol e virou para o outro lado.

-Sabe o que é mais difícil que desenhar sem olhar? - perguntou ele. Tendo como resposta apenas outro resmungo mau humorado, continuou: - É descrever, com palavras, sem olhar.
-Você não pode me descrever! Eu estou dormindo, sabe! - reclamou ela, ainda virada de costas para ele.
-Tem razão! Por isso, precisamos dar um jeito nisso!

Colocando caderno e café de lado, pulou na cama, por cima dela, despejando-lhe todo seu peso e beijando seu rosto onde as mãos dela não conseguiam repeli-lo! Rindo, continuaram nessa disputa por mais algum tempo, até ela se desvencilhar e levantar na cama:

-Muito bonito, não?! - disse, em falso tom de censura. - Você aproveita pra me descrever quando eu acabo de acordar e estou horrível! O que é que você vai colocar aí no seu papel?!

Ele pensou, então, em falar de como ela tentava transmitir autoridade colocando as mãos na cintura daquele jeito, ou como o sono conseguia vencer horas e horas de prancha alisadora, deixando seu cabelo repleto daquelas ondinhas das quais tanto gostava! Pensou também em comentar como a espontaneidade de uma alcinha, caída de sua blusa, lhe deixava sexy e atraente. Sorrindo, pensou isso tudo, mas para irritá-la respondeu:

-Tem razão, melhor nem escrever nada!

Não contendo outro acesso de fúria, ela se jogou para cima dele, tentando atingi-lo com socos e fazendo cócegas! Ria e ria, conforme ele usava de sua força para repeli-la e então voltar a cobri-la de beijos. Era um pequeno momento fugaz desse casal, mas tão cheio de vida e de felicidade que não haveria como não guardá-lo consigo entre suas lembranças felizes, pois às vezes é só disso que se precisa: pequenas belezas diárias que, em sua unidade,  pouco podem, mas unidas têm o poder de colocar uma vida no caminho da felicidade.

2 comentários:

  1. mais um se aventurando no mundo inebriante e cheio de curvas da escrita

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  2. Estou lendo o texto pela segunda vez. Incrível como gostei dele! Dá para imaginar as cenas e formar um filme na cabeça. Parabéns moço, você vai longe!!
    Me lembrei da música Your body is a wonderland, do John Mayer: http://www.youtube.com/watch?v=N5EnGwXV_Pg

    Bjs, Thaís.

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